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Análise ‘O Dono do Mundo’

  • Foto do escritor: Natália  Rocha
    Natália Rocha
  • 23 de ago.
  • 8 min de leitura

Após 198 capítulos, uma análise com pontos positivos, negativos e muito mais sobre a novela do famoso Felipe Barreto.


Malu Mader e Antonio Fagundes em O Dono do Mundo (1991)
Foto: Arley Alves/Globo

Será que é possível ser 'O Dono do Mundo?'


Para Felipe Barreto (Antonio Fagundes) isso não só era possível, como ele fazia tudo para mostrar que com o dinheiro e poder, conquistaria o que quisesse, já que na cabeça dele, era merecedor de tudo. Ao longo de 198 capítulos, na minha "reprise particular" pude acompanhar essa novela pela primeira vez e destaco nesta análise, pontos positivos, negativos e muito mais.


Confira:


O enredo

O ‘Dono do Mundo’ (1991) apresenta a história de Felipe Barreto (Antonio Fagundes), um cirurgião plástico que faz uma aposta para seduzir Márcia (Malu Mader), uma professora virgem e noiva de um funcionário. Ele consegue, mas a traição leva o noivo dela ao suicídio. A partir daí, a vida de Márcia desmorona e ela passa a buscar vingança contra Felipe.


A trama secundária segue Taís (Letícia Sabatella), vizinha de Márcia, que se prostitui para ascender socialmente. Ela se conecta à história principal através de sua cafetina, que guarda segredos do passado de Felipe.


Além da trama de Taís, há outras histórias que envolvem ricos e pobres em conflitos e situações que se desenrolam ao longo dos 198 capítulos.


Expectativas vs. realidade  

A segunda novela da chamada “Trilogia da ética” composta por ‘Vale Tudo’ (1988), ‘O Dono do Mundo’ (1991) e ‘Pátria Minha’ (1994). Depois de 1988, a expectativa era grande para a novela com um vilão, ainda mais interpretado por Antonio Fagundes. No entanto, a realidade foi bem diferente da animação do público.


A novela enfrentou desafios da crítica, devido à temática forte, com um vilão inescrupuloso e uma mocinha sendo julgada (não só ela, mas todas as mulheres da novela sofrem com o julgamento dos homens) o tempo todo por ter feito algo que o público achava “errado” na época. 


‘O Dono do Mundo’ se concentra na crítica individual e moral, mostrando para o público e levando-o ao julgamento e reflexão dos seus próprios hábitos na sociedade. 


Nem todos, nem o povo em 1991 estava preparado para pensar e talvez reconhecer que a causa do “fracasso” da trama na época estava mesmo na própria tirania, ou seja, o povo só quis julgar o tempo todo e não ser julgado. Esse exercício, essa reflexão de comportamentos e perfis, é algo que o autor sempre propôs ao público em suas obras.


Temas que movimentavam a trama

Luta de classes, machismo e uma “sociedade secreta” eram as bases da novela. Isso estava presente em seus personagens, onde todos tinham qualidades e defeitos. Em uns mais, outros menos.


Duas protagonistas numa novela

Malu Mader e Glória Pires em O Dono do Mundo (1991)
Foto: Reprodução/TV Globo

A protagonista central de ‘O Dono do Mundo’ é Márcia (Malu Mader), uma moça ingênua no início da trama, mas que após ter sua vida destroçada por Felipe Barreto, vai percebendo que sua visão inocente de mundo não a levará a lugar nenhum, muito menos ao seu grande objetivo: se vingar do “dono do mundo”.


Até a vingança acontecer, Márcia é a protagonista dominante da novela, mas após se vingar, parece ficar um pouco sem segundo plano, ou seja, não há elementos ou motivações que a deixem no centro da novela, e nisso, na minha opinião, Stella (Glória Pires) é quem se torna a protagonista da segunda metade, a mocinha.


Stella Maciel: uma das personagens mais interessantes da novela

Glória Pires em O Dono do Mundo (1991)
Foto: Reprodução/Globoplay

Stella foi a minha personagem preferida desses 198 capítulos. Um papel pouco falado da carreira de Glória Pires e que merece mais destaque.


Ela, que no início se dedica ao casamento “perfeito” com Felipe Barreto, aos poucos começa a perceber que seu marido não é tão incrível quanto pensa, e a partir disso, começa a lutar por coisas que deixou para trás, como a vida profissional.


Ela, formada em jornalismo, volta a trabalhar e inicia sua trajetória na produtora de Rodolfo (Kadu Moliterno), ele que se torna um amigo, depois eles iniciam um relacionamento. O que tinha para ser incrível, na segunda metade da novela, se torna um verdadeiro pesadelo.


Stella deseja ser mãe e luta muito por isso. Rodolfo, sabendo disso, esconde uma informação importante: sua vasectomia, o que impede a gravidez. Ao invés de ser verdadeiro com Stella, faz o contrário, e pior, a condena por ter uma recaída com Felipe, se sente traído, sendo que omitiu uma informação que mudaria tudo. Com isso, Stella sofre muito, desistindo de tudo, mas com ajuda de Márcia, acaba pensando melhor e tem sua linda filha Maria.


Stella teve uma jornada incrível, indo da esposa perfeita a uma mulher que luta pelo que deseja, que batalha pelos seus sonhos e sempre pensa no melhor para os que ama. O único ponto que me incomoda é ela ter terminado com Rodolfo, mesmo com tudo que aconteceu, mas… fazer o que, né?


Personagens que me conquistaram

Stella tem um lugar especial, mas não foi só essa personagem que gostei muito.


Márcia foi uma protagonista com altos e baixos, com atitudes que talvez o público não compreendesse, mas é nítida a evolução dela. E Malu Mader em cena é sempre uma maravilha.


Yara (Daniella Perez), uma jovem estudante de comunicação, irmã de Stella, contesta o autoritarismo do pai Herculano (Stênio Garcia). Apaixona-se por Umberto (Marcelo Serrado), jovem pianista, primo de Márcia. Aqui, o destaque para Daniella, que é sempre lembrada por seu último trabalho, a tragédia que a levou tão cedo, em ‘O Dono do Mundo’ foi ótimo e interessante vê-la em cena e imaginar o quão ela brilharia em outros papéis.


Olga (Fernanda Montenegro) me divertiu demais. Que delícia vê-la em cena, armando planos para ajudar os que ela simpatizava. Outro ponto da jornada dessa personagem eram seus embates com Constância Eugênia (Nathália Timberg), por conta do passado, por ela ser a mãe biológica de Felipe, entre outras coisas. Os momentos em que Olga encontrava Constância e dizia para beijar o santinho, impossível não rir.


Outros personagens que gostei foram: Aracy, Zoraide, Nancy e Teresinha.


Teve casais para torcer?

O romance e vários casais não eram o ponto central da novela. Os relacionamentos são sempre complicados, pois os homens querem podar as mulheres o tempo todo, nem todas aceitam e tudo acaba.


Do pouco que teve de casais, destaque para Yara e Umberto. Dois jovens que se amam, mas que ao longo da novela, oportunidades na carreira de cada um foram aparecendo, fazendo com que o amor fosse colocado à prova e o resultado foi um amor maduro, ou seja, por mais que se amem, não deixaram as oportunidades passarem, foram viver suas carreiras. Uma pena terem terminado, mas achei bem interessante o amadurecimento do casal, a ponto de perceberem o que era mais importante no momento, escolherem e lidarem com as consequências dessa escolha.


Já nos amores maduros, destaque para dois casais. Nancy e Altair (Paulo Goulart), um casal que lutou contra seus próprios preconceitos e ideias sobre o amor na idade que têm, além de terem de lidar com Constância, ex-mulher de Altair, que não aceita perdê-lo, não porque o ama, mas pela posição e status que seu casamento tinha diante da sociedade. Para Altair, viver no simples, mas com amor foi uma grande transformação, indo de capacho da ex-esposa para um homem feliz no amor e nos negócios.


Olga e Lucas (Hugo Carvana) são outro casal. Ele é um homem simples que trabalha com marcenaria e vive no campo uma vida tranquila. Ela é uma mulher que vive no luxo e badalação. É bonito ver os sacrifícios que cada um faz para se encaixar nesses mundos, o amor que um sente pelo outro, além dos momentos divertidos.


O Dono do Mundo virou bonzinho?

Antonio Fagundes em O Dono do Mundo (1991)
Foto: Reprodução/TV Globo

Após perder tudo, Felipe Barreto se transforma. Saí o homem arrogante, soberbo que se sente “dono do mundo”. Ele se torna bom, compreensivo, outra pessoa e todos caem nessa. 


Ao assistir, muitas vezes eu me perguntei: será que em 1991 o público caiu ou não nessa “armadilha?”


E pelo jeito, o público que se achava mais espero que Márcia, talvez tenha caído, e nos últimos capítulos, Gilberto Braga mostrou que, assim como a mocinha, os telespectadores também foram ingênuos.


Esse meu questionamento surgiu porque, ao longo dos capítulos, senti que Felipe, em alguns momentos, alternou sua personalidade, ou seja, havia situações em que o velho Felipe surgia, mesmo que de forma sutil.


Trilha Sonora

As capas das trilhas nacional e internacional de O Dono do Mundo (1991)
Foto: Reprodução

Sobre a trilha sonora, as músicas que achei mais marcantes e que cheguei ao ouvir no Spotify foram:


Trilha Nacional

  • Logradouro de Orlando Morais - tema de Stella;

  • Acontecimento de Marina Lima - tema de Taís;

  • Codinome Beija-Flor de Luiz Melodia- tema de Guilherme/Beija-Flor;

  • Sábios Costumam Mentir - tema de Otávio;

  • Solidão de Gal Costa - tema de Márcia;

  • Eu Sei (Na Mira) de Marisa Monte - tema de Yara.


Trilha Internacional

  • Only Time Will Tell da banda Nelson - tema de Beija Flor;

  • Unconditional Love de Susanna Hoffs - tema de Yara;

  • Unforgettable de Natalie Cole e part. Nat King - tema do casal Stella e Rodolfo


Não chega a ser uma trilha sonora super marcante, mas tem boas músicas.


Nem tudo são flores

Toda novela tem seus pontos altos e baixos, e claro, que ‘O Dono do Mundo’ não seria diferente.


Todos os homens da novela são machistas, moralistas e vacilantes! OBS.: Acho que só se salvam por serem os menos piores, Otávio (Paulo Gorgulho), Umberto, e olhe lá…


William (Antônio Calloni) é outro personagem que achei chatíssimo. Ele é o pretendente que Olga arruma para Taís se casar e viver uma vida mais confortável e com riqueza. Ele era extremamente ciumento, a ponto de cometer acidentes que prejudicavam pessoas que se aproximavam de sua amada.


E ainda nesta trama de Taís, após casar, ela leva a família para morar no belíssimo apartamento. Os pais, Vicente (Cláudio Corrêa e Castro) e Almerinda (Beatriz Lyra), querem agradar ao genro, e para isso resolvem ter aulas de etiqueta e boas maneiras com Zoraide (Jacqueline Laurence), e muitas das frases de Vicente se resumem em “a minha amiga Zoraide”. Um plot que o objetivo era ser cômico, mas não vi graça nenhuma, pelo contrário, chatíssimo. Gilda (Betty Gofman), a irmã de Taís, parecia ser a única pé no chão e bem realista na família.


Constância e Karen foram a dupla de vilãs que movimentou a segunda metade da novela. Ótimas atuações de Nathália Timberg e Maria Padilha, mas achei a dupla dinâmica chata, principalmente Karen, que é uma sanguessuga, que atrapalha a vida de quem for necessário, e tudo por uma “mesadinha” para viver uma vida que não consegue sustentar.


Considerações finais

O Dono do Mundo’ foi uma novela inédita no meu currículo de noveleira. Sempre tive vontade de assisti-la e, graças ao Globoplay, isso foi possível. Acho muito interessante ver uma novela e tirar as próprias conclusões, independente de crítica e da bolha.


Posso dizer que, mesmo com alguns “poréns”, é uma novela interessante de acompanhar. A vingança de Márcia rendeu boas sequências e Malu Mader enfrentou um desafio em viver uma mocinha que não gerava torcida.


Vejo a novela com duas protagonistas: na primeira metade, Márcia está focada em se vingar de Felipe Barreto. Na segunda, Stella tem esse papel de mocinha, com o drama em querer engravidar e o sofrimento em viver longe do homem que ama.


Antonio Fagundes com Felipe Barreto é incrível, um vilão que tem charme, mas consegue nos gerar raiva, interpretando um canalha. Ele simplesmente deitou e rolou com um dos melhores textos que já vi ele falando. Felipe Barreto é um dos personagens dele, em que, texto, condução e atuação, tudo está perfeito.


A novela tem personagens que dividem opiniões, poucos geram aquele sentimento de torcida, mas tive os que gostei e torci até o fim.


Tem uma abertura bem diferente, que mostra bem como Felipe Barreto vê as mulheres e como é “o dono do mundo”. Uma das aberturas que Gilberto Braga mais gostava.


De modo geral, achei interessante assistir à novela. Uma boa experiência, apesar de alguns capítulos serem um pouco maçantes, tem um bom texto e vale a pena conferir, porque é Gilberto Braga.


Minha nota final é ⭐️⭐️⭐️⭐️


Me contem o que acharam nos comentários do post do Instagram.

© Copyright - Natália Rocha.

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