O que se ganha e o que se perde sem Lícia Manzo
- Natália Rocha
- 31 de ago. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 10 de mai.
Com o cancelamento de 'O País de Alice', trama das seis da autora, o que a Globo e o público podem ou não ter na teledramaturgia

A notícia de que a TV Globo decidiu cancelar a novela das seis 'O País de Alice', de Lícia Manzo, foi algo que agitou a quarta-feira (30/08) dos noveleiros. A trama estava prevista para ir ao ar em 2024, após o remake de 'Elas por Elas'. A autora já vinha trabalhando no projeto, escrevendo os capítulos ao lado de Natália Grimberg, diretora artística, que também já movimentava a escalação e preparação de elenco.
Em uma das notícias mais recentes sobre o folhetim, foi divulgado que existia uma ideia de fazer uma oficina para jovens atores que formariam o trio de protagonistas. A trama principal contaria a história de Alice, uma moça criada pela mãe brasileira na Europa eque decide voltar ao país com objetivo de resgatar suas origens.
A decisão da Globo em cancelar a novela da autora gerou indignação no público. Sobre o cancelamento, segundo notícias, a emissora ao avaliar o primeiro bloco de capítulos, não ficou satisfeita com o que viu, considerando uma história sem apelo popular e até elitista para manter o horário das seis em alta.
Sobre Lícia
Lícia, autora de 'A Vida da Gente' (2011), 'Sete Vidas' (2015) e 'Um Lugar ao Sol' (2021) é conhecida por tramas focadas em acontecimentos mais próximos da realidade, ou seja, não há uma mocinha ou vilão super definidos, pois as ações dos personagens geram reações que são comuns na vida de qualquer um.
Outro elemento presente no "Líciaverso" é o diálogo longo, o famoso "precisamos conversar" que seus personagens sempre dizem, conversas essas que geram o que chamo de "barraco dialogado", onde não há tapas, mas as palavras ferem intensamente.
Adeus tramas elitistas
O estilo de dramaturgia de Lícia Manzo chega a ser semelhante ao do autor Manoel Carlos, que escrevia crônicas do cotidiano e assim como a autora, também tinha tramas com um toque elitista, mas a diferença entre os dois é que ela foca mais em diálogos aprofundados.
Maneco, como é conhecido pelos noveleiros, até hoje é muito aclamado e suas tramas são sempre citadas em listas e pedidas em reprises. Se o elitismo e ritmo menos acelerado que Lícia tem não é o que o público deseja ver hoje, por que as tramas do autor são sempre pedidas e aclamadas? Será que a emissora não está subestimando o gosto do público?
Se a dramaturgia é um espaço para criar histórias, porque não apostar na criação com diferentes estilos e jeitos de contar, ao invés de apostar sempre nos mesmos nomes e tipos de tramas?
Os veteranos
Quando se pensa nos veteranos, os nomes de Gloria Perez, João Emanuel Carneiro, Walcyr Carrasco são certos no horário nobre, isto é, considerando que eles são os únicos medalhões ainda contratados. No entanto, o horário das seis não é marcado por grandes nomes, pelo contrário, tem apostado na diversidade, indo desde Mário Teixeira, Alessandra Poggi até a dupla Thereza Falcão e Alessandro Marson – lançados na gestão de Silvio de Abreu na direção de dramaturgia da Globo – , pois ao pensar em grandes nomes dessa faixa, a maioria já está fora da emissora.
De acordo com informações da colunista Anna Luiza Santiago, do jornal O Globo, a Globo está promovendo uma oficina para formar novos autores de novelas para as seis. Renata Corrêa que assina a série 'Rensga Hits' e Carla Faour e Julia Spadaccini, dupla de 'Segunda Chamada' estão participando com outros autores.
A iniciativa é interessante e nobre, pois novos autores com vontade de criar histórias que encantam o público é algo positivo para todos, gerando oportunidades de trabalho e aos noveleiros, novas aventuras. No entanto, é torcer que eles não passem pela mesma situação quando chegarem o momento de suas respectivas estreias.
O que se perde com o cancelamento da novela
O cancelamento da novela de Lícia é algo triste, porque é menos um autor para compor o time, menos possibilidade uma história que só ela sabe contar e com isso, poucas opções de autores, além de cair no risco de ver sempre o mais do mesmo que se resume em repetições de tramas ou os remakes que tem sido uma estratégia explorada nos últimos tempos.
A repetição e os remakes é algo que inevitavelmente pode acontecer, algo normal na história da televisão, mas com a falta de grandes autores que já se foram ou não atuam mais, o que se tem atualmente gera incômodo no público que alega preguiça e falta de criatividade quando o assunto é novela.
Será que Lícia Manzo tem um estilo que já pode ser considerado ultrapassado ou será que é o público que não tem paciência para os grandes diálogos de suas tramas? Esse é um questionamento que gera inúmeros debates, mas o que se sabe é que as histórias do "Líciaverso" certamente deixarão saudades.