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Foto do escritorNatália Rocha

Protagonistas sem carisma e coadjuvantes dominantes fazem Paraíso Tropical uma trama média

Atualizado: 6 de abr.

A reprise de 'Paraíso Tropical', ao ser anunciada em junho de 2021, foi motivo de surpresa para os noveleiros que aguardavam ‘Cara e Coroa’ (1995). A trama das gêmeas Fernanda e Vitória, interpretadas por Christiane Torloni não veio, mas no seu lugar Paula e Taís (Alessandra Negrini) assumiram o horário em 5 de julho de 2021, substituindo ‘A Viagem’ (1994).


A novela de Gilberto Braga e Ricardo Linhares se mostrou bem construída e movimentada, com ciclos planejados para se abrirem e fecharem ao longo das semanas. Pudemos perceber que existiu uma espécie de “rodízio” entre os núcleos e personagens que de alguma forma são aproveitados, desde os mais complexos e elaborados até os mais rasos e chatos. Mas uma coisa é certa. O casal de protagonistas formado por Daniel (Fábio Assunção) e Paula (Alessandra Negrini) não empolgaram tanto assim como na exibição original da novela em 2007.


Nesta reprise de 2021/2022 pudemos perceber que eles são emocionados demais, principalmente Daniel que, no início em poucos momentos com Paula e já dizia querer se casar com ela. A moça, muito inocente, demorou para reencontrar o seu amado em Copacabana, pois acabou caindo nas armações da dupla Jáder (Chico Diaz) e Bebel (Camila Pitanga).


O casal protagonista pode não ser dos melhores, mas outros casais mostraram a que veio. Lucas e Ana Luísa foram uma grata surpresa em 2007 e conquistou a timeline do Twitter nesta reprise. Os personagens interpretados por Renée de Vielmond e Rodrigo Veronese que só se conhecem depois de algumas semanas de novelas no ar. A química rolou rapidamente e Ana Luísa caiu rapidamente nas graças do público. A esposa do poderoso Antenor Cavalcanti (Tony Ramos) começa a história sendo enganada pelo marido, que a trai com várias mulheres e inclusive tem uma amante "fixa", Fabiana (Maria Fernanda Cândido). O público se afeiçoou rapidamente pela elegância e delicadeza que Ana Luísa esbanjava.


O primeiro encontro com Lucas aconteceu em um momento difícil, ironicamente, quando ela confirma uma suspeita (verdadeira) que Ana tinha sobre a fidelidade de Antenor. Os dois se esbarram em uma exposição de arte naquela troca de olhares super clichê na teledramaturgia e que todo mundo ama não é mesmo. O jovem se encanta pela milionária que fica balançada. A primeiro momento nada acontece após o encontro inesperado e os personagens passaram a integrar o time formado pelos desencontros. Estavam sempre muito próximos, mas, ao mesmo tempo, distantes.


Looping de desencontros

O casal Paula e Daniel viveram muitos desencontros que não empolgaram o público. Já Ana Luísa e Lucas contaram com a torcida, tanto que se tornaram os mocinhos do enredo, considerando que o casal Bebel (Camila Pitanga) e Olavo (Wagner Moura) eram os vilões. A diferença de idade de Ana e Lucas não foi um tema tratado na novela e não causou reações negativas por parte do público, algo que pode acontecer por conta de uma parcela que não compra este tipo de relacionamento, ou seja, há um conservadorismo.


A construção do casal foi muito bem desenvolvida pelos autores e os atores foram ótimos na interpretação dos personagens. Um momento bonito e marcante foi Ana Luísa voltando a dirigir, superando o trauma que sofreu com a perda de seu único filho em um acidente de carro, onde ela era a motorista. A superação só aconteceu, graças a Lucas, que se acidentou, precisando ser levado ao hospital e a encoraja com palavras positivas, dizendo o quanto ela é forte.



Um tempo depois, Ana descobre a traição de Antenor, devido a um plano de Marion (Vera Holtz). Ana Luísa se separa e perde o medo de se envolver e viver seu amor com Lucas. A música tema do casal 'Carvão' cantada por Ana Carolina é linda, um bônus para complementar a torcida pelo casal.


'Paraíso Tropical' foi a estreia de Rodrigo Veronese na Globo, após participações em algumas novelas da Record e SBT. Renée de Vielmond retornou na trama de Gilberto Braga, após 9 anos afastada da televisão. Os atores não permaneceram por toda a novela, uma pena, mas como a novela era baseada em ciclos, o do casal se encerrou antes da metade do enredo. Porém, o par teve êxito, tanto que voltou na reta final.


Olabel

A dupla Camila Pitanga e Wagner Moura que fizeram o casal antagonista da novela

Bebel e Olavo são vilões, mas todo mundo torceu por este casal. A gata cheia de ‘catiguria’ achava que teria uma vida fácil no Rio de Janeiro, mas as promessas de Jáder eram apenas ilusões. Bebel teve que ralar muito no calçadão até encontrar Olavo e a sua “cueca maneira”.


Uma vez que Bebel conheceu a “cueca maneira” ela não quis saber de outra coisa, lutou para ter exclusividade. Ela acaba mexendo com Olavo, mas o executivo ama muito mais o dinheiro e o poder e foi por isso que ele lutou durante toda a novela, queria destruir Daniel Bastos, o preferido de Antenor e assim assumir o lugar do filho do caseiro, como ele se referia ao mocinho.


O casal era formado por duas pessoas questionáveis, mas eles se amam, cada um da sua maneira. Destaque para Camila Pitanga e Wagner Moura que colocaram o nome pra jogo e arrasaram. Quando o assunto era casal, nesta reprise ficou provado por A+B que a novela era deles, que empolgavam muito mais do que Daniel e Paula, o casal com muito açúcar e emoção.


Personagens que evoluíram

Alguns personagens no início até a metade da trama foram simplesmente insuportáveis, mas nada como o tempo e a vida para mostrar que é necessário evoluir, não é mesmo.


O grande Antenor Cavalcanti, por exemplo, era chato e muito rabugento no início, sempre diminuía Ana Luísa achando que a esposa era frágil. Com o tempo e ao conhecer Lúcia, que um dia lhe disse poucas e boas, o homem começou a mudar. Uma das cenas mais emocionantes de Antenor, foi no momento em que ele estava preso, finalmente ele e o pai Belisário (Hugo Carvana) se acertaram, conversando sobre o passado e pedindo desculpas um ao outro.


Fred (Paulo Vilhena), o almofadinha, era um grande chato e arrogante com todos. Ele se encanta por Camila (Patrícia Werneck), filha de Heitor (Daniel Dantas) e Neli (Beth Goulart), querendo se casar com a moça. Para conseguir isto, ele contou com a ajuda da mãe de Camila, que enxerga nele um bom partido para filha. Por influência de Neli, ela acaba se casando com Fred. Na reta final, ela se separa do marido por conta de intrigas da meia-irmã do rapaz, Fernanda (Juliana Didone) e resolve ficar com o ex Mateus (Gustavo Leão), mas acaba percebendo que é apaixonada pelo riquinho.


Esse triângulo Fred-Camila-Mateus se tornou irritante em alguns momentos. Ela ficava naquela de não esquecer Mateus mesmo estando casada com Fred e quando se separou do marido, vivia na indecisão sobre com quem ficar.


No meio desta história de Camila, temos a mãe Neli (Beth Goulart). Confesso que no início eu me irritava muito com ela. Uma mulher que não gostava do prédio que morava, achava que o marido não tinha ambição, queria sempre o melhor casamento para as filhas. O dia do casamento de Camila foi trágico de certa forma para todos. Heitor descobre que Neli estava influenciando a filha a se casar com Fred para salvar o seu emprego no Grupo Cavalcanti. Ali foi a gota d’água para ele, que resolve se separar da esposa e pedir demissão do grupo para seguir o que sempre quis fazer na vida: ser chef de cozinha.


Neli sofre no início com a separação e o aperto que ficou sua vida. Com o passar do tempo, ela se acostuma a viver no Copamar e começa ter outras atitudes para reconquistar Heitor e o amor da filha Joana, que se revolta com ela ao descobrir ser filha de Jáder.


Beth Goulart arrasou como Neli. Eu gostei muito e isso me fez pensar o quão boa atriz ela é e infelizmente não é tão valorizada como merece.


Taíxxxs

A atriz Alessandra Negrini como Taís

A gêmea má só queria era se dar bem e ser muito, muito rica. Ao descobrir a existência da sua irmã Paula, ela viu nela uma oportunidade para conseguir o que tanto desejava. Armou várias para conseguir tirar dinheiro do avô Isidoro (Othon Bastos), de Daniel e Antenor.


Ela teve Marion como sua única amiga. Taís se achava sempre muito esperta, mas não era. Tanto que acabou morrendo em mais uma tentativa de conseguir ter muito dinheiro, logo ela que achava os seus planos eram a cereja do bolo.


Uma menção a Alessandra Negrini que recebeu muitas críticas que foram (e são) injustas. Sabemos que o casal principal não funcionava, mas a atriz deu vida a Taís de uma maneira sensacional.


A morte de Taís nos tirou a oportunidade de se divertir quando suas armações fracassavam e mais, tirou um pouco do ritmo bom da novela. A prova disso é o excesso de cenas do Copamar com as brigas de Iracema (Daisy Lúcidi) e Virgínia (Yoná Magalhães), as loucuras chatíssimas de Dinorá (Isabela Garcia) para reconquistar Gustavo (Marco Ricca).


O que segurou um pouco para que a reta final não caísse na chatice foi mais uma das armações de Olavo que planejou com Bebel uma gravidez em que Antenor seria dado como o pai da criança que seria o herdeiro Cavalcanti, algo que o empresário poderoso tanto queria de Lúcia e com isto, Olavo teria o dinheiro e poder que tanto almejava.


Paraíso Tropical é um bom folhetim e a reprise no Viva nos possibilitou ver e confirmar todas as qualidades, relembrar alguns defeitos e apreciar a história de Gilberto Braga e Ricardo Linhares. Foi uma novela de vilões, uns mais burros, outros mais inteligentes, contando com um casal protagonista que não agradou, outro casal coadjuvante que naturalmente foi ganhando espaço e foram os grandes protagonistas, caindo no gosto do público.




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