A espera acabou e finalmente os noveleiros poderão maratonar esse clássico de Silvio de Abreu
A famosa e imponente família Ferreto enfim chega ao Globoplay nesta segunda-feira (26) através do Projeto Resgate, que traz novelas clássicas ao streaming do Grupo Globo. Silvio de Abreu apresentou uma trama cheia de suspenses, romances e traições em sua segunda novela das 20h. "A Próxima Vítima" (1995) intrigou o público com questões que mexeram com o imaginário coletivo: quem matou? Por quê? E quem será a próxima vítima? Sendo a única pista que os telespectadores tinham a respeito do assassino era que ele dirigia um Opala preto.
O Nati na TV listou algumas curiosidades deste grande sucesso e que até hoje pauta muitas conversas por aí:
Questões sociais em meio ao enfoque policial
Apesar de ser uma trama policial, o autor abordou questões sociais. Uma das tramas paralelas envolvia a família de Juca (Tony Ramos). No início da trama ele era apaixonado por Ana (Susana Vieira), amante do seu meio-irmão Marcelo (José Wilker), mas no decorrer da novela, o personagem se envolve com Helena (Natália do Vale). Ela é mãe de Irene (Vivianne Pasmanter) que se envolve com o caminhoneiro Zé Bolacha (Lima Duarte), pai de Juca. Juca, Helena, Irene e Zé Bolacha formavam um quadrilátero amoroso que movimentou bastante a novela e abordava os relacionamentos entre pessoas com diferenças de idade.
Outras questões sociais presentes nas tramas paralelas foram o preconceito em diferentes formas e a homossexualidade. O racismo esteve presente através da família Noronha: Cleber (Antônio Pitanga) era um contador que prestava serviço para várias empresas, casado com Fátima (Zezé Motta) uma excelente profissional e mãe que cuidava dos seus três filhos: Jefferson (Lui Mendes) um estudante de direito, Sidney (Norton Nascimento) que era bancário e Patrícia (Camila Pitanga) que sonhava em ser modelo. A família de Cleber era considerada, para o público, um exemplo a ser seguido.
"Além da homossexualidade e do racismo, a novela tocou em assuntos considerados tabus na época, como prostituição, drogas e o abandono de crianças foram algumas das pautas sociais abordas na trama paulistana."
Homenagem
Silvio de Abreu homenageou seu amigo Gilberto Braga ao batizar de Felipe Barreto, o cirurgião plástico que operou Isabela Ferreto (Cláudia Ohana) quando Marcelo corta seu rosto com uma faca. Na novela 'O Dono do Mundo' (1991) de Braga, tinha como protagonista o cirurgião plástico, personagem interpretado por Antonio Fagundes.
Segredo até o último minuto
As cenas finais foram gravadas no último dia às 13h, com três desfechos diferentes, e a novela foi ao ar no mesmo dia às 20h30. O autor enviou as cenas alternativas para a emissora, com o capítulo já editado. Quando entraram no estúdio, os atores já receberam suas falas e só então ficaram sabendo quem era o assassino. O sigilo foi mantido até o último minuto. A estratégia de escrever capítulos falsos foi adotada pelo autor durante toda a novela para despistar a imprensa e evitar que fosse publicada alguma informação sobre quem iria morrer.
Figurino de destaque
A personagem Helena (Natália do Vale) foi a campeã quando o assunto é elegância, vestindo sempre blazers, calças e blusas clássicas. O estilo das Ferreto era muito chique e causou muito frisson: elas tinham os maiores guarda-roupas da novela, com mais de 60 peças cada. No lado masculino, o guarda-roupa com mais peças foi o de Marcelo, personagem vivido por José Wilker. Com mais de 40 peças, entre camisas, gravatas sofisticadas e ternos, algo incomum para um personagem masculino.
Produção de arte e cenografia
A Costa Amalfitana, na Itália, foi o cenário das primeiras gravações externas da novela. Os bairros do Bixiga e da Mooca, com grande concentração de descendentes de italianos, serviram de inspiração para a criação da cidade cenográfica. Na locação, havia uma pracinha que lembrava uma típica praça de Nápoles, na Itália. Foi a primeira vez que na construção de cidade cenográfica, a técnica de misturar madeira, argamassa e tela de arame foi utilizada. Essa novidade foi importada dos Estados Unidos pelo diretor Mário Monteiro.
Final alternativo para fora
Para a venda ao mercado externo, Silvio de Abreu teve que criar outro final para a trama, sem prejudicar todo o mistério da novela. O autor voltou às imagens gravadas, reeditou e eliminou algumas cenas, mantendo a coerência e suspense. A versão exibida em Portugal, por exemplo, teve como assassino o personagem Ulisses (Otávio Augusto).
Sobre vendas para o exterior, a novela foi vendida para mais de 20 países, alguns como: Cuba, Estados Unidos, México, Guatemala, Peru, Portugal, Hungria, Letônia, Nicarágua, Rússia, Venezuela, Uruguai, República Dominicana e República Tcheca.
Cenas marcantes
Quando o assunto é cenas memoráveis, ‘A Próxima Vítima’ não deixa a desejar. Uma das cenas mais fortes, por exemplo, é a de Diego (Marcos Frota), que espanca Isabela e a empurra do alto de uma escada na mansão dos Ferreto, no dia do seu casamento, ao descobrir que ela o traía com Marcelo. As imagens foram, na época, consideradas pelo Conselho Nacional dos Direitos da Mulher como um estímulo ao machismo.
Já na reta final, Isabela sofreu em mais uma cena forte, sendo atacada, ou melhor, esfaqueada por Marcelo ao descobrir que estava sendo traído por ela e Bruno (Alexandre Borges), o amante de Romana Ferreto (Rosamaria Murtinho), a tia da moça.
Outra cena muito lembrada é a que Sandro (André Gonçalves), filho de Ana e Marcelo, revela à mãe sua orientação sexual. Essa sequência é considerada importante na discussão sobre a homossexualidade no Brasil.
Inspirações
O personagem Zé Bolacha foi inspirado em um tio de Silvio de Abreu, que era chofer de caminhão na cidade de Catanduva, no interior de São Paulo. O autor declarou que o personagem foi criado especialmente para o ator Lima Duarte. A personagem Júlia (Glória Menezes), que se envolve em uma campanha de apoio aos meninos de rua, foi inspirada na artista plástica, Yvone Bezerra de Mello, que se dedicava à causa na época, e em seu livro ‘As Ovelhas Desgarradas e seus Algozes’.
O sucesso do verdureiro Juca e da novela foi tão grande que o personagem foi a inspiração para o nome de duas barracas de frutas no Mercado Municipal de São Paulo, o famoso “Mercadão”. O nome da barraca: “Barraca do Juca”.
Bordões
A novela teve dois bordões que logo caíram na boca do público: o da personagem Carina (Deborah Secco) que gritava “Socorro”, cada vez que se irritava ou decepcionava. A inspiração veio da filha adolescente de Silvio de Abreu. O segundo bordão, bem peculiar, era de Vitinho (Flávio Migliaccio) que se referia a Helena como: “A bonitona do Morumbi”.
Com 203 capítulos, ‘A Próxima Vítima’ é sem dúvidas uma ótima trama policial e muito cultuada pelos noveleiros. E aí, qual dessas curiosidades mais chamou sua atenção?